Testar é tão fácil, que até a minha mãe testaria!

Na semana passada começou a primeira Mesa Redonda DFTestes, com o tema “Testar é tão fácil, que até a minha mãe testaria!”. A discussão teve o total de 19 participantes, que fizeram bonito dando as suas opiniões e compartilhando experiências,  gerando 26 respostas e tornando a discussão bem produtiva.

Os participantes foram: Robson Agapito, Simon Rodrigues, Sarah Pimentel, Ronaldo Cruz, Renata Eliza, Ricardo Franco, Felipe Silva, Ricardo Franco Custodio, Camilo Ribeiro, Maria Meire Gomes, Rita Lima, Michel Mendoza, Carolina Baldisserotto, Emerson Gomes da Silva, Ueslei Aquino da Silva, Edwagney Luz, Andrea Cruz, Rodrigo Almeida de Oliveira e eu também. 🙂

O intuito desse post é fazer uma compilação da discussão, espero que gostem.

A discussão teve como tema “Testar é tão fácil, que até a minha mãe testaria!”, e foi feita em torno das seguintes perguntas:

  • Esse é um mito ou verdade?
  • Como surgiu esse mito?
  • Por que ainda hoje, há muitas pessoas que tem essa opinião?
  • O que podemos fazer para acabar com esse mito?
  • A área de Teste de Software sofre preconceitos?

Para o Robson Agapito um dos motivos é a pouca disseminação do conhecimento sobre Teste de Software, principalmente devido a inexistência dessa matéria na maioria das faculdades do Brasil:

[…] este mito ocorre principalmente por falta de conhecimento de muitas pessoas da área de TI. Então se começarmos a divulgar mais sobre testes de software pode ajudar muito a não terem esta visão.

Uma situação que era extremamente importante para ter um reconhecimento grande durante os próximos anos seria a inserção inicial de uma matéria sobre testes de software nas universidades, e quem sabe um curso na graduação sobre testes de software.

A Renata Eliza lembrou que podemos ajudar a conscientizar os nossos colegas de trabalho, sobre o que de fato é testar:

É um trabalho árduo, mas que não é impossível.  A falta de conhecimento faz com que as pessoas de um modo geral pensem dessa maneira extremamente equivocada.  Se conseguirmos conscientizar a empresa onde estamos hoje e os colegas da área de TI (extra-empresa) que nos cercam, já vai ser um ganho incrível.

Para mim, há ainda muitas pessoas que acreditam que Teste de Software, só tem uma fase, a da execução, e que só fazem testes exploratórios de forma manual. E isso é fruto da ignorância dessas pessoas em relação ao Teste de Software.

A respeito da aparente facilidade de testar um software, tivemos diversas opiniões, complementares:

Para o Simon:

(Testar) Não é tão fácil assim, o profissional de teste de software tem uma visão diferente das demais pessoas da organização, sendo especializado em testar o software através de algumas técnicas.

Já para a Sarah Pimentel:

Se pensarmos que um caso de teste manual deve estar tão bem descrito que qualquer pessoa possa executá-lo, para o TESTADOR, na minha opinião, isso se torna verdade. Mas não é sempre assim, muitas vezes exige um certo conhecimento da parte do testador. E além disso, para chegar nesse resultado de escrever o caso de teste correto e dessa maneira, há várias outras implicações.

E a Sarah ainda concluiu que:

  • Considerando os baixos critérios de admissão das empresas, e a facilidade em chamar “qualquer coisa” de testes: Sim, testar é tão fácil que até a minha mãe testaria (e melhor que muita gente por ai).
  • Considerando um mundo ao menos próximo do ideal: Não! Testar exige conhecimento, preparo e experiência.

O Ronaldo Cruz alertou que tal afirmação é perigosa:

Dizer que “testar é tão fácil que minha mãe testaria” é algo perigoso de se dizer, porque exige um mínimo de conhecimento de negócio ou do ambiente em que se testa, caso contrário, você vai apenas mascarar a atividade, sendo que nem o básico realmente é validado, e o risco de se ter a imagem da empresa arranhada por entregar produtos mal feitos e sem qualidade pode ser irreparável.

O Ricardo Franco, fez uma boa analogia, mostrando que há pessoas que falam que testar é fácil, mas nem se quer sabem o que é testar:

Pra mim, isso aí é igual àquela estória da beterraba:
– Você gosta de beterraba?
– Não.
– Você já comeu beterraba?
– Não.
– Então porque você diz que não gosta se não sabe nem o sabor?
– Porque as pessoas dizem que é ruim.

O Felipe Silva apresentou o cenário da área de Teste de Software na IBM, para ilustrar o quanto é errôneo pensar que testar é uma simples tarefa e que qualquer um pode executar:

Só a título de curiosidade a empresa mundialmente conhecida IBM conta com um departamento chamado GTO (Global Test Organization), departamento este que hoje emprega mais de 7000 funcionários só no Brasil e movimenta a maior parte do faturamento da empresa no Brasil.

Quem pensa que teste não leva à nada ou é gerente e pensa que teste é apenas custo… acho que deveria rever seus conceitos.

Na minha opinião, a dificuldade de testar depende do sistema sob teste, só que o mesmo também baliza a dificuldade das outras atividades do desenvolvimento de software (ex. arquitetura, análise, programação, etc). E de acordo com a complexidade e tecnologias utilizadas no desenvolvimento de um sistema, o Teste de Software pode se tornar extremamente difícil.

Outro motivo citado na discussão, que ajudou a fortalecer esse mito, é a respeito da competência e preparo de alguns profissionais que atuam na área.

A Sarah, apresentou a seguinte realidade:

O que ocorre é que há muitas pessoas sem preparo no mercado. Nada contra iniciantes, eu obviamente um dia fui uma, mas há pessoas que iniciam na área de testes na seguinte sequência: Faz vestibular pra um monte de coisa, não passa, arruma uma faculdade genérica qualquer pra fazer um curso qualquer (leia-se informática) – isso quando faz uma faculdade-, não gosta de programar, não se dá bem com processo, com arquitetura, com redes, etc, resolve que vai ‘fazer testes’. Não se aprimora, não busca conhecimento, e continua por ai sendo um profissional no mercado.

Culpa também das empresas que muitas vezes preferem os mais baratos em detrimento dos que estão melhor preparados.
O Camilo Ribeiro, compartilhou a sua opinião de que há:

Profissionais que realizam testes “exploratórios” e nada mais não são testadores. Esses testes “exploratórios” são o que nos enfraquecem, fazem nosso trabalho parecer simples e como disse nosso amigo Fabrício, o teste passa a ter uma única fase, a execução “porca”.

Muita gente acha que só fazemos esses testes “meia boca”, e isso em grande parte por culpa dos que se dizem analistas de teste e na verdade acabam por mostrarem-se amadores ou pessoas sem capacidade técnica e organizacional para medir a eficiência do próprio trabalho.

O Emerson Gomes compartilhou algumas experiências vivenciadas:

Creio que também a existência de maus profissionais, tanto fora quanto dentro da área de testes pode trazer tal impressão.

[…] um profissional que está na área, mais com muito pouco conhecimento técnico…como eu também já presenciei…como um testador que não tinha quaisquer conhecimentos de SQL, sequer para executar uma consulta…. A presença dele na equipe, fazia outras pessoas utilizarem essa velha máxima de que “Até minha mãe testaria”, pois a pessoa citada tinha poucos conhecimentos técnicos, e apenas fazia testes funcionais, baseando-se nas regras de negócio, mais sem o poder de conseguir verificar casos como uma transação que leva dados a um software legado, ou se um simples cadastro está sendo feito da maneira correta na sua base de dados.

Sobre o que podemos fazer para acabar com esse mito, houveram boas sugestões, como a do Ronaldo Cruz:

O que podemos fazer para mudar essa mentalidade é justamente fazer os envolvidos terem conhecimento das nossa atividades, como ela funciona, a importância da mesma, cases de projetos com e sem qualidade, o valor agregado. No meu caso, o pessoal começou a dar valor e exigir o meu trabalho dentro da equipe depois que eles conheceram as minhas atividades, o quão complexo elas são e o quanto os produtos entregues começaram a ter um menor grau de reclamação e defeitos encontrados pelo cliente

A Renata Eliza sugeriu 7 atitudes que os profissionais da área de Teste de Software precisam ter:

  1. O 1º passo é ter uma afeição pela área área;
  2. Pensar que: você não precisa provar nada pra ninguém (sem essa de achar que eles vão pensar que você era um péssimo desenvolvedor, ou que não achou nada de mais interessante na área…);
  3. Aprender. A busca do conhecimento é fundamental;
  4. Empreender no dia a dia de trabalho;
  5. Aplicar técnicas.. Cada uma em seu tempo. E mostrar os resultados alcançados com cada uma delas;
  6. Dar nome ao que está sendo feito.  Por exemplo: por que falar que vai repetir todos os testes? Diga: Vou realizar um teste de regressão. Pode parecer idiota, mas é uma maneira simples de mostrar que não nos limitamos a fazer testes exploratórios, e que existe técnica no que estamos fazendo;
  7. Não se desvalorizar.

Já para o Camilo Ribeiro, o testador não pode ser limitar apenas as suas tarefas, e disse:

A forma que temos de reverter isso começa em nós mesmos. Como disse Tolstoi (se não me engano) “Todos querem mudar o mundo, mas ninguém quer mudar a si mesmo”.

Ao mudamos nosso ambiente de trabalho aplicando técnicas, definindo um processo, criando indicadores, gerenciando nossas atividades e demonstrando o valor dos processos de teste dentro da organização que nós trabalhamos nós mudamos nossa imagem e conseqüentemente a imagem da nossa profissão.

Outra coisa fundamental na minha opinião é ser técnico. Saber programar, orientação a objetos, SQL, design patterns, conhecer ferramentas, usar frameworks, elaborar e revisar requisitos, escrever processos, gerencia de configuração e etc não nos torna menos testadores, muito pelo contrário, conhecer de tudo é saber identificar defeitos em tudo.

O Ueslei Silva fez um relato de uma experiência que passou, na qual a realização de treinamentos gerou bons resultados:

Após alguns treinamentos internos para os profissionais do setor de testes e algumas explanações internas sobre o que realmente é teste de software, depois de muita luta, finalmente entenderem que não é tão fácil como parece, principalmente quando o que temos para testar é um legado sem documentação…rs

Passos para um novo horizonte para realização dos testes começaram a se dar na empresa, mesmo que com algumas resistências, pois o custo é alto e profissionais precisam ser qualificados, cultura precisa ser mudada, etc…

O Edwagney contou uma interessante maneira de explicar e convencer as pessoas sobre a importância do Teste de Software, na qual precisamos:

Começar a mudar a percepção dos desenvolvedores, arquitetos e PRINCIPALMENTE dos clientes.

Certa vez estava dando um treinamento para uma das empresas em que trabalhei, sobre a recém-criada área de teste. Os treinandos eram compostos por desenvolvedores e arquitetos. A primeira pergunta que fiz a eles foi uma que vocês já devem conhecer: Se o software que vocês projetam e desenvolvem fosse para o controle de uma aeronave, vocês voariam nessa aeronave? (dá pra imaginar a resposta, não é verdade?) 🙂

Isso também deve ser levado ao cliente… Tente perguntar ao seu cliente se ele confiaria em voar em um avião que não foi passado por uma bateria de testes antes? Será que ele entraria lá dentro?

Coloque pra ele o valor que foi gasto para se construir e quanto será o gasto de cada defeito, senão for testado corretamente? Tente apresentar a ele o risco que a empresa dele corre, caso um defeito ocorra e este paralise o negócio dele?

A respeito se existem preconceitos de outras áreas para a área de Teste de Software, a Andrea Cruz apresentou uma maneira bem madura de se lidar com eles:

Preconceitos existem. A melhor forma é primeiro aceitar. Não adianta reclamar. É preciso admitir que existe um preconceito oriundo de uma grande falta de conhecimento nesta área e que por ignorância alguns discriminam. Algumas pessoas do  desenvolvimento se sente ameaçadas. Só você pode conscientizar as pessoas, esclarecê-las. Lutar pela qualidade é lutar por um padrão que só traz benefícios. É ser amigo do desenvolvedor e do cliente.

Para o Rodrigo Cruz, o preconceito é fruto da falta de informação:

Sofremos preconceito daqueles que não conhecem o nosso trabalho e nem se preocupam de perguntar o que fazemos, porque a partir do momento que isso ocorrer, com certeza eles vão deixar de pensar dessa forma.

Para quem ficou interessado no assunto, recomendo fortemente a leitura de toda a discussão, pois esse foi apenas um resumo, para ter idéia eu nem citei sobre a discussão levantada pelo Robson, sobre se seria interessante os analistas de negócios/requisitos/sistemas verificarem os casos de testes criados pela equipe de teste.

Participem das mesas redondas, entrando no DFTestes! 😉

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P.S.: Desculpa pelo resumo ter ficado muito grande, mas acredito que é melhor informação a mais do que o contrário. 😉

15 comentários sobre “Testar é tão fácil, que até a minha mãe testaria!

  1. Pingback: Mesa Redonda: Testar é tão fácil, que até a minha mãe testaria! « Qualidade Manaus

  2. Vocês chegaram a tratar do assunto automação de testes? Que questões apareceram na discussão?

    Trabalho uma disciplina de Qualidade e Teste de Software em um curso de graduação no Rio Grande do Sul, apresentando tipos diferentes de teste, técnicas, como isto se insere nos ciclos de desenvolvimento de software (foco nos ciclos iterativos e incrementais), e na segunda parte do semestre foco em automação de teste, trabalhando algumas ferramentas em formato de “testing dojo”.

    Eu acredito no testador como um agente de prevenção, trabalhando próximo do time para garantir uma única visão de negócio do que precisa ser entregue ao cliente. E acredito em testador que saiba automatizar seus testes.

    Também tenho este foco dentro da disciplina, ensinando as pessoas a pensarem em automação.

    Responder
  3. Ótima síntese! Parabéns.

    Não podia deixar de te dar os parabéns pela iniciativa, pela condução e por essa síntese.

    Tem meu apoio para todas as próximas “mesas redondas”.

    Reforço: “Agradecemos todos pelo seu trabalho.”

    Abraços,

    Camilo Ribeiro

    Responder
  4. @Edwagney e @Camilo

    E eu agradeço a participação de vocês. Afinal, sozinho não é possível construir nada. 😉

    @Daniel

    No primeiro brainstorming de sugestões de tema para as mesas redondas, não houve nenhum específico a automação de testes. Porém, com certeza há vários temas que poderão ser discutidos sobre automação de testes, afinal das contas, ela é essencial para o Teste de Software, principalmente para o Teste Ágil.

    Eu já vi alguns trabalhos seus Daniel, e a sua abordagem sobre Teste de Software é MUITO BOA, e com certeza você está formando profissionais preparados para o futuro da área de Teste de Software, que na minha opinião é uma atuação cada vez mais forte na prevenção, e utilizando práticas ágeis.

    Aproveitando, acredito que você poderá agregar muito na nossa próxima mesa redonda sobre “Teste Ágil, como implementar?”, fica aqui o meu convite. 😉

    Obrigado pelo comentário!

    Abraços!

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  5. Boa Fabrício…

    Bem interessante a idéia de Mesa Redonda…e também de fazer esse resumão…bem inteligente…

    Abraços e bora marcar aquele kart!

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  6. Tenho uma pergunta..

    Estou começando em TI, e foi muito discutido a respeito de conhecimento na área de testes. Para as pessoas que estão na área, seja estudando ou trabalhando, teriam cursos para indicar?
    Estou procurando cursos BONS na área (online ou presencial), mas os que encontrei, achei um pouco incompletos.

    Grata.

    Responder
    • Olá Elida!

      Cursos presenciais depende da sua localização, em São Paulo por exemplo, tem a Iterasys e a Globalcode, com bons cursos na área.

      Agora curso online, eu conheço um MBA em Teste de Software online da UNIEURO.

      Abraços!

    • Elida,

      Infelizmente não. 😦

      Lembrei agora da Qualister, que também oferece treinamentos online, aliás, eles têm vários cursos com preços bem acessíveis.

      Abraços!

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