A 27ª Mesa Redonda DFTestes teve como tema “Por que os desenvolvedores não fazem testes de unidade e integração?”. A discussão gerou 8 respostas e 7 pessoas participaram, sendo elas: eu, Janaina Trilles, Sarah Pimentel, Maria Meire, Edwagney Luz, Felipe Silva e Bruno Augusto.
Abaixo segue um resumo da discussão, baseado nas duas perguntas principais da mesa redonda. Quem quiser acessar a discussão na íntegra, pode acessar por meio deste link.
Por que os desenvolvedores não fazem testes de unidade e integração?
A Sarah Pimentel deu a sua resposta baseada na sua experiência, dizendo que:
Alguns casos que vivenciei era mais uma questão de conversar não com os desenvolvedores, mas com os gerentes. Nem sempre é “má vontade” dos desenvolvedores, em alguns casos é falta de tempo mesmo. O gerente não prevê a criação/execução de testes unitários e se o desenvolvedor aumentar a estimativa dele de desenvolvimento para englobar os testes unitários o gerente vai cair em cima e cortar o tempo da estimativa.
A aplicação de testes, de uma forma geral, não só os unitários, mas também os de sistema, está sempre envolta em muitas questões culturais.
O Edwagney fez um comentário bem interessante sobre a questão, colocando que a acomodação é um dos motivos para que os desenvolvedores não realizem testes de unidade e integração.
Esse é um tema bastante interessante e um grande indício de que o ser humano é sim acomodado e gosta de entrar numa zona de conforto e para não sair de lá jogar a culpa no tempo. Explico!
As tecnologias de hoje permitem ganhar muito mais tempo com desenvolvimento do que anos atrás. Quem foi desenvolvedor nas décadas de 80 e 90 sabem do que estou falando. Nessa época não tínhamos ainda o conceito de teste formal de software, como temos hoje e TODA a execução do teste era feito pelos próprios desenvolvedores. Já ouviram falar em “teste de mesa”? Para quem nunca ouviu falar disso, esse é um teste que era feito “à mão” usando papel e caneta onde os desenvolvedores simulavam a entrada de dados nas suas estruturas condicionais e de repetição, e verificavam se essa estrutura iria funcionar da forma como eles imaginavam para o desenvolvimento.
Esse era o teste unitário. Ele era feito por qualquer bom desenvolvedor. Era a forma de garantir que ao menos as principais funcionalidades estavam funcionando de forma isolada.Esse método também era bastante usado nos testes de integração, onde os próprios desenvolvedores se viam na necessidade de testar seus módulos de forma integrada. O ambiente era direcionado a esse teste. Quem faria isso? Ninguém… Éramos nós mesmos.
Quando começaram a surgir as novas tecnologias, reduzindo o tempo de desenvolvimento e os conceitos de teste, os desenvolvedores entraram em uma tamanha acomodação que hoje nem mesmo os testes básicos eles fazem mais. Como assim? Há não… Vou perder meu tempo testando pra quê, se existe uma equipe só pra fazer isso?
Minha reflexão em relação a tudo isso é, existe culpa dos desenvolvedores por não mais executarem os testes?
Penso que atribuir culpa a alguém ou a alguma área é a forma mais fácil de taparmos o sol com a peneira. Não é assim que funciona. Antes de botar culpa em alguém façamos algumas reflexões:
Qual a política de testes foi adotada pela empresa? Todos na organização conhecem essa política? Todos a conhecem e sabem falar dela para outras pessoas (com propriedade)?
Essa política atribui papéis e responsabilidades bem definidos? A equipe de desenvolvimento sabe exatamente qual teste é executado pela equipe de teste?
O que aconteceu com os desenvolvedores que os fizeram a não executarem mais testes é simples. ACOMODAÇÃO.
De novo, culpa deles, não. Isso é natural do ser humano. Os desenvolvedores se acomodaram, pelo fato de acharem que, se existe uma equipe de teste, eles VÃO executar todos os testes no software. Só que em nenhum momento falaram para eles que não é bem assim. Cada um tem o seu escopo e sua participação no processo, isso É OBRIGAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO em comunicar todos e todas as areas na empresa.
Para o Felipe Silva vários fatores contribuem para que o desenvolvedor não realize tais testes:
1. Penso na primeira como sendo a desvalorização de tais testes primeiramente por quem cobra os desenvolvedores (aquele que fica pondo pressão) e consequentemente pelos desenvolvedores (que se mostrarem baixo desempenho – por estarem testado tudo que supostamente deveriam testar – podem acabar perdendo o emprego),
2. O segundo ponto é a cultura de trabalho reativo acomodada na organização, que sem perceber (as vezes por que se negam a aceitar que isso ocorre sempre) preferem fazer duas vezes do que fazer o certo na primeira vez,
3. O terceiro ponto é os desenvolvedores não saberem que o processo de testes é composto por vários testes e que a equipe de teste não faz todos (não ainda), se eles não sabem disso é porque não deram condições para isso.Em nenhum dos 3 casos eu os culpo (desenvolvedores) por isso, pois acho que a coisa começa em cima e reflete em baixo.
Na minha opinião alguns motivos para que o desenvolvedor não realize testes unitários e de integração são:
- Existe uma rede de proteção chamada equipe de Testes;
- Não tem
- motivação;
- conhecimento sobre testes;
- noção do quanto dos benefícios de ter testes de unidade e integração;
- São uns bundões e/ou imaturos;
- Auto-confiança em excesso, “para que testar fui eu que desenvolvi”;
- Dão manutenção em sistemas legados;
O grande problema é quando dois ou mais motivos juntam, o que é comum.
O que podemos fazer para incentivar/ajudar os desenvolvedores a realizar tais testes?
A Janaina Trilles compartilhou a sua dificuldade, que acredito que também seja a de muitos, mas acredito que o caminho seja tendo persistência mesmo, tentando ir mudar aos poucos.
Eu tenho grande dificuldade de fazer os desenvolvedores ter a cultura dos testes unitários, é sempre um problema na empresa .Não sei como eu posso mudar esse conceito, já falei que fazendo isso dimínui bastante defeitos e gera menos retrabalho.
Segundo o Felipe Silva, podemos ajudar sim, mas é algo que irá dá trabalho e demorará, uma vez que o problema muitas vezes está na cultura da equipe/empresa.
1. Ter no cronograma condições de se fazer estes testes, e fazer sem ser atropelado. Ter essas condições no cronograma não necessariamente significa aumenta o tempo do cronograma, pode-se pensar em N soluções para otimizar o tempo gasto em certas tarefas ou automatizar as que forem possíveis,
2. A organização, precisa ser “testadora”, digo, ser do mesmo time que nós, não somos “aqueles que apontam os defeitos”, somos “um de nós”, somos amigos do sucesso organizacional (pois tais testes ajudam tanto a ter melhor qualidade no produto entregue quanto ajuda reduzir o tempo gasto com testes funcionais), isso aqui não é da noite pro dia, mas tem que ser trabalhado incansavelmente a nível macro (todos envolvidos no projeto).
3. Alguma estratégia de divulgação da cultura de testes, do dia a dia, do que é feito e o que não é feito pelos testadores, seja por treinamento ou por qualquer outra forma que consiga atingir o objetivo de levar os opressores (líderes) e oprimidos (desenvolvedores) ao conhecimento do efeito negativo de se trabalhar reativamente.Fácil falar e trabalhoso e não tão rápido de se conseguir, pois é humano, é cultural, é organizacional, envolve métricas, envolve dinheiro, envolve o cliente, envolve o emprego de cada um.
Eu penso, que podemos ajudar divulgando conteúdos relacionados ao assunto, dá uma palestra na empresa sobre esses testes, etc.
Se você tiver conhecimento/domínio sobre alguma linguagem de programação, pode conversar com o desenvolvedor para combinar um dia de sentar junto para tentar escrever alguns testes de uma funcionalidade que ele for implementar.
Realmente, introduzir testes unitários e de integração no desenvolvimento é um processo que costuma ser demorado, não é fácil mudar a cultura dos desenvolvedores, principalmente, pelo fato que eles têm que sentir que testes são importantes, pois é algo que terá que ser mantido, caso contrário, iremos ver a teoria das janelas quebradas na prática.
Bem pessoal é isso. Até a próxima! 🙂
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